Desfiguração

Rasguei um pedaço do céu,
Encharquei-o de leite verde,
Esfreguei a face transfigurada,
O preto misturou-se ao vermelho (não formaram uma nova cor),
Descartei-os como velhas lembranças desinteressantes,
As mãos ergueram-se na altura dos olhos e splash!
Pronto!
Acordei pro sempre outra vez.

Dreams

Sento-me frente à liberdade,
Dou as costas a quem me prende,
Minha realidade me faz forte.
Sim, eu tenho a coragem do que teme.
A minha direita? Minha dor.
Na mão que canha guardo um leve riso.
Meus olhos o perturbam discretamente.
Cruzo o céu num único sopro,
Nado na infinidade do mar por três vezes,
Resolvo correr!
Quis alcançar com os braços direções diferentes,
Fui te acolher num imenso afago...
Despertei,
Num susto!
Com um intenso brilho de fogo,
Sorrindo um bom dia,
Iluminando o quarto,
Precisamente posto em minha janela.

Burtterfly

Hoje o céu amanheceu em triste cinza de angustia.
O silêncio absoluto produzia uma perfeita nota: dor.
Em meio ao desespero que tomava a todos,
Os pássaros também se negaram a cantar.
O vazio se fazia mais presente e em maior proporção,
E o sonho se foi naquela falta de cor.
Até mesmo o poeta disse faltar-lhe força.
Viramo-nos decididos a deixar aquele local de despedidas,
Porém o cheiro nos acompanhou na lembrança,
Como todo o resto.
Pensamos firme:
Coragem! Força!
Mas, só pra si.
Senti a necessidade e repousei num terno peito.
Confessei sentir medo do depois.
E então o sábio peito finalizou dizendo:
-Aguarda que amanhã o sol vem brilhar.

Carta a um Amigo Querido



Caro amigo, com um teco de pólvora é que te arrancaram de mim...
Lembro-me claramente daquele dia ordinário.
Amigo, seria estúpido de minha parte dizer que já superei. A verdade mesmo, é que me lembro quase ou sempre de você. 

As minhas lembranças são boas sim, mas não passam de lembranças, não é mesmo? E eu realmente gostaria de me contentar com elas, mas fico sempre na vontade.
Volte e meia eu fico pensando como riamos, o motivo pouco importava, mas riamos. E quando esse pensamento me bate o peito, amigo querido, eu corro o caminho inverso daquelas tardes de riso frouxo.
Muita coisa aconteceu por aqui depois que você me deixou sem querer.
Sabe os nossos melhores amigos? Pois então, eles não são mais os melhores, nem tão pouco amigos. Bem, uns se casaram outros mudaram, alguns estão na faculdade e outros, como eu, sentem sua falta. Todos se perderam no tempo ou numa vaga lembrança.
Confesso que eu ajudei um pouco a torná
-los vagas lembranças, pois eu também mudei um bocado, meu amigo.
Infelizmente o que não mudou é que eu ainda carrego as marcas tristes da tua partida e um buraco no peito pela tua ausência. E isso nem tem a ver com as lembranças tuas, aliás, elas me fazem um bem danado. O problema é que sempre que me dou conta, você covardemente não está aqui pra me abraçar, pegar na minha mão e rir com o sorriso mais doce do mundo.
Hoje em dia, eu faço questão de deixar altamente claro as pessoas que cercam minha vida, o quanto elas são importantes pra mim, pois eu não sei se em algum dia ordinário um teco de pólvora pode arrancar uma delas de mim...
Finalizo por aqui minha carta, é que todas essas minhas palavras me inundaram os olhos e não consigo mais continuar.
Obrigada por tudo, amigo querido.
Um beijo doce, a gente se vê.


Karla Sanchez