Nós dois lado-a-lado, corpos grudados, mãos dadas, frente ao mar.
Suspiros.
Cena de uma fotografia perfeita.
Pausa.
Senti ciúmes do mar, me dei conta de que ele também te namorava e por ousadia tocava seus pés, delicadamente. E você gostava.
Te olhei com estranhamento, como quem perguntasse 'será que te perdi pro mar?'
Você, sem tirar os olhos dele me respondeu: 'não se pode competir com o mar!'.
Soltei da sua mão e corri.
Parti com o coração estilhaçado e com a certeza de com o mar não se pode competir.
Eu me apaixonei pelo irmão gêmeo de um anão.
Só que ele não era anão.
E se ele fosse anão?
Será que eu me apaixonaria por um anão?
E você?
A não?!
Amoleci o passo pra encontrar com a chuva,
o céu me disse que ela viria.
Maldita! Atrasou.
Incrível, quando meti meus pés pra dentro de casa,
ela me disse:
'Cheguei!'

Maldita!
A verdade é que ninguém é realmente feliz
e ninguém é realmente triste.
Eu fui feliz no dia em que te tive
e quando você me deixou eu fui triste.

Ponto.
Havia algum tempo que eu não tomava um bom banho de chuva como hoje.
Seria maravilhoso se pra todos os problemas eu tivesse uma chuva guardada no bolso.


Uma parte de mim quer teu bem
e a outra quer também.

Eu te... é.
Se eu pudesse imaginar o quanto crescer é ruim,
Teria ficado mais vezes embaixo da mesa,
Aberto mais guarda-chuvas dentro de casa,
Deixado todos me pularem... Sem pular de volta! 

Não aceite minhas desculpas.

Bem-te-vi na soleira da velha casa cansada
de olhos profundamente caídos,
senti apertar-me o peito,
eu já sabia todos os motivos do peso daquele olhar.
E outra vez eu não quis te ouvir,
eu não quis ficar.
Não aceite minhas desculpas,
eu não quero piorar.
E não me diga “tudo bem”
se não está.
Hoje eu sou o que você não quis pra mim,
já tentei ser melhor,
mas eu caminho na contramão
da sua mão, que insiste em querer me guiar.
Tudo aquilo que é bom em mim
é alimentado por você,
e aquilo que te fere
é o que eu desejo matar.
Não dá, também faz parte do que eu decidir ser.
Só queria que aquele seu sorriso
voltasse a me trazer aquela paz de brisa bonita, de nova manhã.
Eu não queria crescer,
eu não queria te decepcionar.
Não aceite minhas desculpas,
elas não valem mais.

Falta de talento ao me aproximar.

Ora, veja lá.
Eu me esforcei pra dizer
“você me faz bem”.
E quando meus vagos olhos
encontraram brilho nos seus,
eu aprendi que o resto fica pra mais tarde.
Agora só não me deixe faltar o que me faz falta.

Cuco.


Como é bom retornar aquela casa.Mesmo que os tacos da época da minha infância tenham sido substituídos por azulejos,
mesmo que as paredes já tenham sido de tantas outras cores desde aquele tempo,
por mais que os cômodos tenham mudado tanto,
que o número de pessoas que moravam lá tenha diminuído,
e que elas, assim como eu, tenham envelhecido tão depressa, que cada uma tenha uma vida distante agora... é sempre tão bom retornar lá.
Retornar e sentir que o carinho e o velho cuco na parede ainda são os mesmos.

Pesadelo

Essa tarde deitei um pouco pra assistir tevê e em virtude de meu sono de adolescente que estuda de manhã, acabei cochilando.
Em menos de dez minutos de cochilo tive um dos meus piores pesadelos da minha vida.
Foi algo muito estranho, até então nunca havia me ocorrido algo parecido.
Era algo que envolvia meu lado religioso, o que me perturbou um pouco, já que minha fé não é lá das maiores e em meu julgamento me considero uma pessoa que “peco” muito, por assim dizer.
Eu tenho meus conceitos, minhas curiosidades, meus misticismos ao que desrespeita a crença. Eu só não entendo o porque o assunto me incomoda tanto.
Eu procurei desesperadamente o resto da tarde uma resposta pra esse sonho maluco que eu tive. Fiquei pensando que podia ter uma ligação com umas coisas estranhas e macabras que aconteceram durante a madrugada e estenderam-se pela manhã e tarde até a hora desse pesadelo, mas preferi não pirar pensando nisso.
Resumindo um pouco, eu me lembro de ter acordado assustada só que pensando que ainda estava dormindo e sem entender muito bem o que estava acontecendo. Eu havia sonhado com várias coisas que me lembraram meu passado, certo envolvimento com família e principalmente as coisas que eu aprendi na época em que resolvi conhecer todas as religiões possíveis. Então eu senti uma sensação estranha no meu corpo, como se eu já não tivesse mais o controle dele, mesmo assim eu sentia que ele formigava e eu o deixava devagar. Tentava desesperadamente voltar pro meu corpo, mas sem sucesso. Não senti dor, mas uma agonia. Isso aconteceu muito rápido, mas a minha percepção de tempo é de que levou horas. Enquanto eu sentia menos o meu corpo formigar e sentia mais a sensação de estar o abandonando, mesmo lutando pra permanecer nele, eu ouvia uma voz. Eu sentia essa voz exatamente no meu ouvido esquerdo e eu podia jurar que percebia exatamente a respiração enquanto ela falava, era uma voz apavorante, dizia palavras confusas, uma língua estranha, que eu não faço a minima idéia do que seja e o que quis dizer. De repente eu senti um sacode, como deve ser quando se está reanimando uma pessoa em coma no hospital. Aí eu abri os olhos e minha primeira reação foi cobrir minha cabeça de medo. Depois foi a confusão de não saber se aquilo tinha sido um sonho, já que eu ainda sentia o meu corpo formigar sutilmente e também sentia a presença de alguém perto de mim. Aquela sensação de quente quando alguém fala no seu ouvindo, e como eu estava sozinha em casa isso me deixou muito mais apavorada.
Aos poucos fui colocando a cabeça pra fora da coberta, olhando em volta cada canto do meu quarto, e respirei aliviada por concluir que pelo menos agora estava tudo mais calmo.
Mesmo assim passei o resto da tarde com medo e sentindo arrepios como se fossem de frio. 

A verdade é que eu me entupi de mentiras, me enganei mesmo, com várias “teorias” do que poderia ter provocado aquelas sensações.
Eu sou muito covarde com relação a coisas que eu não posso entender direito. Eu continuo achando que é melhor assim. 
Talvez esse tipo de coisa nem seja pra gente entender, talvez tenha sido um tipo de teste, sei lá, não vale a pena ficar remoendo isso agora. Se um dia eu tiver que entender eu vou entender. Eu prefiro pensar assim, é assim que eu me sinto melhor.

Estou aqui novamente.
Mesma droga de insônia rotineira.
Já passam das três da madruga, nem vestígio de sono. 

Vou lá fazer meu café.
Peguei a única caneca que estava limpa, tinha a cara de um Yorkshire meigo estampado.
Enchi de leite, quase transbordou, taquei no microondas por dois minutos (santa modernidade),
duas colheres de uma imitação de nescafé, só que bem melhor e mais cremoso, e açúcar, muito açúcar!
Fui experimentar a xícara já estava fria, mas eu consegui me queimar com o líquido.
Subi pro quarto, coloquei o café no balcão com a intenção de achar uma posição confortável pra tomar o maldito café e também assistir alguma porcaria na tevê, ai me ajeitei e...

dormi.



Aquele

Encontram-se novamente, assim esporadicamente era mais bonito.
Foi na escada de um lugar qualquer dessa vez, ela o viu subindo e o aguardou ansiosa, sorrindo.
Ele? Abriu os braços e a envolveu.
Ela me confidenciou que desejou que o tempo parasse naquele momento.
O silêncio disse tudo, assim mesmo, sem que nenhum dos dois proferisse nenhuma palavra.
Ela sentiu seu coração saltando pela boca quando ele segurou firme sua mão e a beijou.
"Era tudo tão inocente", ele me disse noutro dia. E é isso que eles sentiam.
Ele a olhou fundo nos olhos e disse: - vem comigo!
-Para onde? Respondeu ela com um riso nervoso.
-Não diz nada e vem comigo! Finalizou ele que acabou por convencer.
E?
Continua...

Biarticulado detalhado.

Peguei um biarticulado no horário de pico, pensei que me sentiria como uma sardinha enlatada, mas por sorte o ônibus não estava tão cheio. Eu, em pé, mais ou menos no centro do ônibus, tinha uma boa visão dele todo. 
Seguia reparando no rosto das pessoas que eu considerava que estariam voltando de seus trabalhos, semblantes tristes, alguns um pouco sujos, moças de maquiagem borada, alguns até pestanejavam encostados nas janelas. Eu me segurava com firmeza, especialmente nas curvas, pois o motorista estava realmente querendo tirar o pai da forca.
Meus olhos percorriam o rosto daquelas pessoas, fazia pausas em algumas delas, imaginava a história da vida de uma, outra eu apenas tentava adivinhar o nome, se tinha filhos, ou apenas prestava atenção em suas conversas, tudo como de costume, como boa observadora que sou.
Numa dessas minhas procuras por alguém que me chamasse mais atenção e eu pudesse me focar, encontrei um garoto, um belo garoto. Ele estava apoiado com as costas na porta quatro, mal se segurava, estava seguro naquela posição, até que a porta abrisse e ele tivesse que se esquivar pra que os passageiros descessem.
Encantei-me com aquele moço. Meus olhos o encontraram e ali ficaram, analisando cada detalhe possível.
Sua pele morena-clara dava a ele um ar mais sedutor, sua boca era pequena, delicada, e enquanto ele conversava despercebido com um colega que o acompanhava, pude reparar em seus dentes, que tornavam tudo um conjunto bem desenhado. Seu cabelo era como o de quem acabará de raspar numa máquina dois, não o deixando tão curto. Seus olhos pouco mais escuros do que os meus, nem grandes nem pequenos, e sim proporcionais ao seu rosto, que alias, tinha um bonito formato numa mistura de delicadeza e masculinidade, envolvido por uma imperfeita barba, qual não pude deixar de reparar, por gostar muito. Seu nariz também estava simetricamente alinhado a sua face. Era de estatura mediana, trajava uma calça jeans despojada, uma camiseta neutra e um tênis moderno, desses de garotos que gostam de rock (infelizmente não era um all star), continuei a observar. Ele também carregava uma mochila, imaginei que estivesse voltando do trabalho, cursinho ou faculdade. Ouvia um popular aparelho de mp3, acho que ouvia uma boa música, ele tinha cara de quem ouvia.
Enquanto seu colega falava coisas cujo quais não prestei atenção, ele apenas sorria, vez concordava com a cabeça, outras levantava as sobrancelhas em sinal de entendimento. Suas mãos eram pequenas, delicadas como as de uma moça, porém, suas unhas denunciavam o contrário. Notei que ele não usava aliança, sinal de que era solteiro, ou apenas não usava.
Fixei meus olhos nos dele e sentindo que ele percebeu, desviei, envergonhada. Entretanto, eu não me continha dentro de mim, eu precisava olhar, eu precisava, eu queria. Olhei novamente, e de novo, e de novo... Sempre tentando fazer com que ele não percebesse, mas acabou por ser inútil. Depois de alguns desvios de olhares, uns ápices de vergonha, seus olhos se encontraram intensamente com os meus... e sorriram.
E agora ele também me observava. O que será que ele pensava?
Estávamos separados por certa distância, conversávamos com os olhos, eu estava adorando aquela paquera.
Infelizmente chegou a hora do meu desembarque. Preciso ir moreno dos olhos famintos, preciso!
Caminhei até a porta do desembarque, a número quatro, lá mesmo onde ele estava. Como na porta havia um aglomerado de pessoas também aguardando o desembarque, eu fui andando até encontrar um lugar onde eu pudesse me segurar melhor e que não tivesse tanta gente. Esse lugar, felizmente, era exatamente de frente pra ele, onde eu pude observa-lo melhor. Era ainda mais bonito de perto, seus traços me embriagaram... Como era lindo!
A porta abriu é a minha vez de descer, queria poder observá-lo por mais tempo, mas eu precisava ir... Caminhei para fora do biarticulado sem tirar meus olhos dele, afinal seriam os últimos minutos que eu o veria.

Antes que a porta nos separasse ele me olhou uma última vez e sorriu. Um sorriso assim de despedida. 
E eu guardei o seu sorriso, como uma medalha. Fui embora com um esboço de riso estampado no rosto.
Eu sei que nunca mais me encontrarei com ele, pois é assim que as coisas acontecem, eu nem soube seu nome, mas mesmo assim eu me apaixonei por ele, assim como me apaixonei por tantos outros de formas semelhantes.
Agora eu volto pra casa, caminhando, sozinha, reparando nas pessoas que ocupam as ruas. Quem sabe eu não me apaixone por alguém no caminho? Alguém com quem eu possa flertar e sonhar por instantes.

Quem sabe?



originalmente:03/07

FELIZ DIA DOS PAIS, TIO.

De repente eu tinha crescido e já te enxergava com meu terno olhar.
Eu vi um filme sobre minha infância e pensei inocente que antes as coisas eram maiores e agora tudo tinha ficado muito pequeno.
Você me disse que estava com saudades e eu respondi um “eu também”, mas não muito significativo, daquelas conversas de saudade que você diz por dizer. Você me disse também que já faziam oito dias desde a última vez que tinha me visto. E no peso das tuas palavras eu entendi o tamanho do seu carinho por mim. Sorri do seu comentário com brilho nos olhos e não quis dizer nada, depois derramei algumas lágrimas num canto sozinha pra me punir de minha ingratidão.
Mas sabe de uma coisa? Talvez nossa vida não tenha sido só flores, mas tudo que aprendi com você me é muito útil e eu agradeço. Agradeço também a todo o carinho com que você me criou, e por mais que não estejamos mais juntos você continua sendo o pai que eu não tive e eu te amo muito!
Temos vidas muito diferentes agora, mas continua sendo muito bom correr pros seus braços e ouvir o seu sincero “ô, filha, como é que tá?!”. Eu o admiro quando necessário, desaprovo quando acho que devo e é tudo uma troca. Enfim, eu te amo duas vezes e mais... É sincero! Espero um dia ter oportunidade de lhe dizer as coisas boas que sinto a seu respeito.
Obrigada por fazer parte da minha vida.

Aquele

Topou com ele numa esquina qualquer.
Ele não era bonito, mas ela gostava de seu sorriso.
E ele? Sorriu, abraçou-a e beijou.
Seguiram.
Falaram sobre tudo, no entanto, nada importante.
Ele a olhava nos olhos e bastava.
Era muito charmoso, era do que ela gostava.
Despediu-se, abraçou-a e beijou novamente (dessa vez um pouco diferente).
E ela? Entendeu no seu olhar o que ele não disse.
E?
Continua...

Ésses de idade

-Senti-me mal.
Sentiu?
-Sentei-me um pouco.
Sentou?
-Servi-me um chá.
Serviu?
-Salguei, ao invés de adoçar.
Salgou?
-Sorri, que boba eu fui.
Sorriu?
-Será que fiquei doida? Pensei.
Será?
-Sei, idade é assim que se chama.
Soube?
-Saí daquela cadeira desconfortável.
Saiu?
-Subi em direção a janela.
Subiu?
-Sublime a lua que reluzia.
Sublime?
-Saboreei a noite.
Saboreou?
-Satisfeita, fui dormir.
Satisfeita?
-Sussurrei uma reza.
Sussurrou?
-Senti-me mal, e não mais acordei.

Carta ao Amigo 2.

Caro amigo, hoje sonhei com você, faz tempo que não acontecia. Foi um sonho um pouco diferente, desta vez você já tinha ido embora e nós (eu, sua mãe e seu irmão) falávamos muito sobre você, revendo fotografias, pertences, relembrando fatos, enfim. Só que dessa vez, meu amigo, o alivio era notável em nossos olhos, provavelmente em razão de todo tempo que passou. Não que nós não sentimos mais sua falta, mas o tempo nos confortou e apenas nos conformamos aos poucos.
Ainda que eu não possa entender o motivo de sonhar com você, entendo muito menos o que o seu irmão fazia no sonho. Eu sei que você tem um irmão, o que eu sei também é que ele não morava com vocês e isso faz com que eu não me lembre muito bem dele, muito menos o seu nome, mas no meu sonho ele chamava-se Bruno. Ele estava ajudando muito sua mãe, que alias faz muito tempo que não vejo.
Sabe, amigo querido, esse sonho me fez pensar em como o tempo passa rápido. Daqui uns dois meses, faz três anos que você foi embora, nos deixando essa ferida aberta.

 Sua mãe me disse no sonho pra eu não me preocupar, pois ela sentia sua presença sempre e na certa você estaria perto de mim, isso fez com que eu desejasse muito te ver, e engraçado, eu não tive medo.
O que me conforta é acreditar que em breve estaremos juntos, e eu sei que estaremos.
Sinto sua falta.

Um beijo doce...
A gente se vê!


Karla Rafaely Sanchez

Vírgula ou embaralho

O_ nó_ que_ ata_ vizinho_ do_ triste_ balde_ d'água_ que_ reflete_ o_ arco_ monocromático_ no_ cinza_ céu_ da_ palma_ da_ mão_ gélida_ que_ aguarda_ pálida_ a_ que_ parece_ com_ minha_ face_ só_ que_ do_ avesso_ por_ quem_ me_ arrebento_ na_ bomba_ me_ faz_ bem_ ouvir_ meu_ coração_ parar_ no_ riso_ que_ aflito_ te_ quis_ conquistar_ pra_ proteger-me_ da_ distração_ de_ perder_ qualquer_ gesto_ de_ suspirar_ e_ querer_ te_ beijar_ hora_ a_ hora_ que_ atraso_ em_ dizer_ te_ quero_ bem_ como_ quem_ cuida_ do_ precioso_ entra_ dia_ e_ sai_ dia_ e_ sempre_ fico_ na_ espera_ da_ coragem_ pra_ aclamar_ a_ costura_ da_ amizade_ e_ de_ muito_ me_ vale_ e_ maior_ que_ a_ emenda_ é_ o_ nó_ que_ ata_ vizinho_ agora_ do_ nosso_ inseguro_ amor_ que_ inexiste.

Estupidamente Ridícula

Fui me distrair
Dar boa risadas
Procurei pensar em nada.
A peça não era das melhores
A música não me embalava
Nas pessoas faltava beleza
E o caminho te lembrava.
Senti-me fraca!
Não consegui me concentrar
Os conselhos amigos me entediavam
Só queria ir para casa
E mais uma vez o caminho de volta te lembrava.
Senti-me ainda pior!
Um novo turbilhão abrigou-se em minha cabeça
Novas perguntas sem respostas
O velho tormento recomeça.
Senti-me enganada!
Meus amigos não estão mais comigo
Já estou em casa
Todos dormem
E eu gostaria de parar de tentar.
Senti-me machucada!
Essa ferida que eu mesma abri
É algo do qual não me conformo
O que importa  é cicatriza-lá.
Sinto-me arrasada!
Gostaria de poder culpar alguém
Mas a culpa é de quem se apega demais
A palavras bonitas e pessoas abstratas.
Sinto-me enganada!
Já não posso segurar mais esse mar em meus olhos
Suas palavras certeiras me abalaram
Por que as pessoas me magoam?
Sinto-me estupidamente ridícula, agora!


(É, seria uma bela e triste história não fosse tudo fruto de minha imaginação bagunçada e enfeitiçada, também de minha necessidade em enfeitar os fatos. Ora, eu não me deixaria enganar por alguém que passou por minha vida com “Ç” e com “CH” nada deixou de proveitoso!)
É no silêncio que me perco
Nos pensamentos tropeço
Nas despedidas já não choro
No teu olhar já não me encontro

No devaneio já estou lúcida
E na procura me perdi.
É, mas logo volto e me encontro.
Por que?
Porque é fato!

Circunstância


Eu sei, a ausência me bateu,
Pois bem, tanta coisa aconteceu.
Meus rabiscos ainda estão lá
Você ainda pode alcançá-los,
Mas eu não gostaria que o fizesse.
Desculpe-me pelo tempo perdido,
Prometo que de agora em diante
Só tomo partido, daquilo que é meu.
Minha música não me agrada,
Meus livros não me prendem,
Mesmo assim me farei mais presente.
Agora sempre estou com pressa,
Todos me afetam,
Tudo me estressa.
Pensei em Moçambique,
Mas ainda pago pra ver meu próprio carnaval
Assim...
Aqui.
Pra mim,
Por ti!

Título Inexistente

Hoje definitivamente não é um dia bom,
Mil pensamentos invadem minha cabeça, fazendo dela um turbilhão.
O papel e a caneta nem formam mais um belo par,
Só quero escrever, escrever e escrever, mas o quê?!
A caneta nem acompanha meu raciocínio.
Escrevo, rabisco, refaço e não me sinto satisfeita.
Já não suporto mais não conseguir expressar o que sinto em minhas bêbadas linhas,
Estou perdendo ou minha criatividade está numa ausência sem igual.
Porém meu pensamento corre, corre, corre desenfreado, e nada, nenhuma linha sai como deveria.
Tantas coisas eu quero escrever, tantas... e nada!
Nenhuma frase que faça sentido, torpe, mal acentuada, disforme, ilegível... nada!
As horas são segundos, madrugada adentro, e mais uma vez nada.
Serão os infortúnios acontecimentos dos últimos dias que tenham bulido com meus desabafos nesse papel?
Não sei, Não tenho nenhuma resposta coerente o bastante.
Só o que sei, é que hoje definitivamente não é um dia bom!

Ele

Ele, que em suas primeiras linhas nem me alcançou, mas depois do segundo ou terceiro galanteio passou a me encantar, fazendo com que assim eu sentisse cada vez mais curiosidade em ler uma nova frase que fosse, desde que vinda dele.
Ai, ele, que sem saber se tornou grande, e fez com que meu pensamento corre-se busca-lo numa freqüência descontrolada, em segredo, claro.
É! Ele! Que conheceu a minha arte, mas o tempo não deixou que eu conhecesse a sua. Ele que me parecia tão meigo, atencioso, tantas coisas mais.
Ele que não me permitiu um final feliz pra essa história, pois ele, bem, Ele se foi da minha vida da mesma forma que entrou;
Assim como um vento forte que toca seu rosto e bagunça seus cabelos sem que você espere e num piscar de olhos se foi... 

Você o perde sem saber se ele vai voltar, se é que “Ele” volta.




“Se você não me queria, não devia me procurar, não devia me iludir, nem deixar eu me apaixonar...”

Os tolos

Dia desses numa conversa boba, um grande amigo me disse:
-Eu não sou bom amando.

.
E quem é? Quem?
Meu amigo, eu bem sei que como disse o poeta:
"Todos os que amam são tolos."
Porém, o mais tolo é aquele que nunca amou alguém.
E faço das suas, meu amigo, as minhas palavras. 

Por saber que por amor ninguém nunca será julgado culpado.
-Eu não sou boa amando!

Juntei meus pedaços

Juntei meus pedaços.
é tempo novo
hora de recomeçar
quero uma nova história
quero algo que valha a pena
um alguém pra me apegar.
Juntei meus pedaços
quero hora nova
quero história que valha a pena
um tempo pra me apegar
alguém pra recomeçar.
Juntei meus pedaços
é tempo de recomeçar
quero algo pra me apegar
quero um alguém que valha a pena
é hora de nova história.
Juntei meu pedaços
quero tempo novo
é hora pra me apegar
quero história que valha a pena
pra recomeçar um algo, um alguém.
Juntei meus pedaços
quero tempo de nova história
é hora de recomeçar pra me apegar
quero algo novo que valha a pena
é
quero.
Juntei meus pedaços.

No compasso da tua dança

teus embalos em discurso são lanças.
agora só ouço e me perco dentro de meus soluços inúteis.
depois de um tempo me vem você como passo de dança...
bem ensaiado,
olha-me!

cega-me!
perco-me agora no balanço do teu abraço,
e é nesse caso que tudo fica bem.

Flor-de-Ise (abraçando todos os bons amigos)

Tua graça me preenche firme
Da candura, da pirraça
Visto o céu de meia lua
Que a flor despercebida completa.
Apoio-me em ti e penso em voz alta

Dobro-me e te ouço, nem sempre calada.
Irmã do meu sentimento,
Dê-me sua mão?
Pra continuarmos a trilha
Na lágrima e no riso
Até que a vida nos desampare
E a flor-de-Ise não floresça mais.

Quatorze anos de armário, natural de Portugal.

Meu querido Pierrô hoje está partindo
Na companhia de minha linda Sete Saias.
Estão partindo porque más línguas disseram que eles não me faziam muito bem.
E eu, num ato de covardia e falta de argumento, apenas me despedi.
O rubro Pierrô secou sua ultima lágrima
Enquanto a alegre e dançante Sete Saias negou-me um último giro.
Despedi-me com dor no peito, mas certa de que eles estarão bem.
E em meu armário velho e empoeirado
Seus lugares ficarão sempre vazios
Com a lembrança de quem por anos o enfeitara.

Flerte Flanders


Pensei em dizer que te admiro
“Garoto que bom arteiro você é!!”
Mas não era bem isso que eu queria te dizer.
O que seria então?
Não sei, é só o que sei.
Enfim, teu olhar assim de canto, pseudo-melancólico...
Ah! Eles me pregaram uma peça...

Nós partidos

Dizia eu: -O que te fez partir de mim?
Dizia ele: -Nós nos partimos!
Dizia eu: -O que faremos?
Dizia outro: -O tempo fará!
O tempo fez...
Nós nos partimos.

Desfiguração

Rasguei um pedaço do céu,
Encharquei-o de leite verde,
Esfreguei a face transfigurada,
O preto misturou-se ao vermelho (não formaram uma nova cor),
Descartei-os como velhas lembranças desinteressantes,
As mãos ergueram-se na altura dos olhos e splash!
Pronto!
Acordei pro sempre outra vez.

Dreams

Sento-me frente à liberdade,
Dou as costas a quem me prende,
Minha realidade me faz forte.
Sim, eu tenho a coragem do que teme.
A minha direita? Minha dor.
Na mão que canha guardo um leve riso.
Meus olhos o perturbam discretamente.
Cruzo o céu num único sopro,
Nado na infinidade do mar por três vezes,
Resolvo correr!
Quis alcançar com os braços direções diferentes,
Fui te acolher num imenso afago...
Despertei,
Num susto!
Com um intenso brilho de fogo,
Sorrindo um bom dia,
Iluminando o quarto,
Precisamente posto em minha janela.

Burtterfly

Hoje o céu amanheceu em triste cinza de angustia.
O silêncio absoluto produzia uma perfeita nota: dor.
Em meio ao desespero que tomava a todos,
Os pássaros também se negaram a cantar.
O vazio se fazia mais presente e em maior proporção,
E o sonho se foi naquela falta de cor.
Até mesmo o poeta disse faltar-lhe força.
Viramo-nos decididos a deixar aquele local de despedidas,
Porém o cheiro nos acompanhou na lembrança,
Como todo o resto.
Pensamos firme:
Coragem! Força!
Mas, só pra si.
Senti a necessidade e repousei num terno peito.
Confessei sentir medo do depois.
E então o sábio peito finalizou dizendo:
-Aguarda que amanhã o sol vem brilhar.

Carta a um Amigo Querido



Caro amigo, com um teco de pólvora é que te arrancaram de mim...
Lembro-me claramente daquele dia ordinário.
Amigo, seria estúpido de minha parte dizer que já superei. A verdade mesmo, é que me lembro quase ou sempre de você. 

As minhas lembranças são boas sim, mas não passam de lembranças, não é mesmo? E eu realmente gostaria de me contentar com elas, mas fico sempre na vontade.
Volte e meia eu fico pensando como riamos, o motivo pouco importava, mas riamos. E quando esse pensamento me bate o peito, amigo querido, eu corro o caminho inverso daquelas tardes de riso frouxo.
Muita coisa aconteceu por aqui depois que você me deixou sem querer.
Sabe os nossos melhores amigos? Pois então, eles não são mais os melhores, nem tão pouco amigos. Bem, uns se casaram outros mudaram, alguns estão na faculdade e outros, como eu, sentem sua falta. Todos se perderam no tempo ou numa vaga lembrança.
Confesso que eu ajudei um pouco a torná
-los vagas lembranças, pois eu também mudei um bocado, meu amigo.
Infelizmente o que não mudou é que eu ainda carrego as marcas tristes da tua partida e um buraco no peito pela tua ausência. E isso nem tem a ver com as lembranças tuas, aliás, elas me fazem um bem danado. O problema é que sempre que me dou conta, você covardemente não está aqui pra me abraçar, pegar na minha mão e rir com o sorriso mais doce do mundo.
Hoje em dia, eu faço questão de deixar altamente claro as pessoas que cercam minha vida, o quanto elas são importantes pra mim, pois eu não sei se em algum dia ordinário um teco de pólvora pode arrancar uma delas de mim...
Finalizo por aqui minha carta, é que todas essas minhas palavras me inundaram os olhos e não consigo mais continuar.
Obrigada por tudo, amigo querido.
Um beijo doce, a gente se vê.


Karla Sanchez